Portugal, que entre 1939 e 1945 inspirou Erich Maria Remarque no domínio da ficção, viveu sob um quotidiano real de tal modo repleto de serviços de espionagem devido à posição geoestratégica que de melhor modo se integraria numa obra de John Le Carré, o espião que escreveu sobre espiões.
Tanto os serviços ingleses como os alemães mantiveram em Lisboa uma intensa actividade secreta, não sendo de excluir a presença de espiões americanos. Todos compartilharam esta Casablanca da Europa a fim de prestarem as informações que a cada um dos países interessaria obter.
Esta placa giratória que foi Lisboa durante os anos do conflito, inspirou decididamente, poucas lendas, mas foi ponto importante para os serviços secretos de todos os países envolvidos na guerra.
Um caso que não levantou clamor e que foi prontamente calado foi o do dactilógrafo português que trabalhava na Embaixada de Portugal em Londres, junto de Armindo Monteiro, e que sendo preso como espião nazi, foi condenado à morte, para mais tarde ver comutada a pena para prisão perpétua. Por ele poderia Hitler ter tomado conhecimento antecipado dos planos para a concessão de facilidades às forças militares aliadas nas ilhas dos Açores.
Nos dancings e nos night clubs, o Intelligence Service procurava dados muitas vezes menos políticos e mais de ordem industrial. Quanto aos espiões alemães estavam por todo o lado, havendo-os nos hotéis, nos cafés e esplanadas e nos meios de transporte. Procuravam sobretudo obter informações entre judeus que tinham conseguido fugir dos pogroms e campos de concentração e que de qualquer maneira tinham chegado até ao Atlântico. E não perdiam a oportunidade de sondar entre as inúmeras estrangeiras que a legação inglesa em Lisboa mantinha com modesta ajuda semanal, vindas de todos os países da Europa e da Ásia.
Lisboa viu de passagem D. Duarte Nuno, na sua viagem para o Brasil, quando foi casar com a princesa Maria Francisca de Orleans e Bragança. Foi em Outubro de 1942. Este facto foi pretexto para os monárquicos conspirarem no sentido de ser dada como solução para o pós-guerra em Portugal, a restauração da monarquia.
E o Estoril foi, já em finais da guerra, o centro de uma outra intriga monárquica apoiante de D. Juan, conde de Barcelona, pretendente ao trono de Espanha.
Conspiradores e espiões cruzaram-se nesta placa giratória nos anos da guerra.