Quem foi a primeira vítima de uma guerra que viria a fazer mais que quarenta milhões delas? Foi um prisioneiro de campos de concentração nazi (provavelmente de Dachau) usado numa operação secreta alemã que levaria ao desencadear da Segunda Guerra Mundial.
Alguns meses antes da invasão da Polónia por parte da Alemanha, vários jornais alemães e outros políticos como Adolf Hitler já tinham dado início a uma campanha nacional e internacional acusando as autoridades polacas de organizarem ou tolerarem violentas limpezas étnicas de alemães residentes na Polónia.
A 22 de Agosto de 1939, Adolft Hitler avisou os seus generais que iria arranjar algo que legitimasse uma acção bélica contra a Polónia:
«Eu vou arranjar um casus belli propagandista. A sua credibilidade não importa. O vencedor não será questionado se disse a verdade.»
Foi então que lançaram o plano que teve o nome do seu criador Heinrich Himmler e que foi incialmente supervisionado por Heinrich Müller e depois por Reinhard Heydrich. O objectivo era o de criar a ideia de uma agressão polaca contra a Alemanha, que seria depois usada para justificar a invasão da Polónia. Para além disso, outra das intenções de Adolf Hitler era a de que tal operação iria confundir os aliados dos polacos (Reino Unido e França) e atrasar a respectiva declaração de guerra à Alemanha.
A Operação Himmler teve vários episódios:
- Assalto à estação de rádio de Gleitwitz (actualmente Gliwice na Polónia);
- Ataque à estação aduaneira de Hochlinden;
- Ataque à estação de serviço florestal de Pitschen.
O principal foi, de facto, o assalto à estação de rádio de Gleitwitz (a cerca de 4 quilómetros da então fronteira com a Polónia) por volta das 20 horas da noite de 31 de Agosto de 1939 onde um pequeno grupo de seis agentes alemães das SS, vestidos com uniformes polacos e liderado por Alfred Naujocks, atacou a estação de Gleiwitz e transmitiu uma curta mensagem anti-alemã em polaco:
«Uwage! Tu Gliwice. Rozglosnia znajduje sie w rekach Polskich.»
(Atenção! Daqui Gliwice. A emissora está nas mãos de polacos.)
Num dos carros estava Franciszek Honiok, um camponês católico e solteiro de 43 anos de idade. Tinha sido escolhido por causa do seu envolvimento numa série de revoltas locais contra o domínio alemão na Silésia (região fronteiriça que abrange hoje em dia Polónia, Alemanha e República Checa).
Franciszek Honiok tinha sido preso e morto pelas SS na vila de Polomia no dia anterior e seleccionado como pessoa que iria ser a prova da agressão polaca contra a Alemanha. Juntamente com tal prisioneiro, os agentes SS também deixaram para trás outros homens fardados com uniformes polacos que teriam sido levados do campo de concentração de Dachau para tal ataque e mortos com injecção letal e posteriormente alvejados.
Num acto cuidadosamente coordenado e praticamente em simultâneo, todas as estações de rádio alemãs transmitiram a mensagem dos "invasores". Foi também referido que corpos de soldados polacos mortos no incidente tinham sido deixados no local.
Em Londes, a BBC difundiu a declaração:
«Houve relatos de um ataque a uma estação de rádio em Gliwice, que fica do outro lado da fronteira polaca na Alemanha.
A agência de notícias alemã relata o ataque ocorreu por volta das oito horas desta noite, quando os polacos abriram caminho para o estúdio e começou a transmitir uma declaração em polaco. Num espaço de um quarto de hora, segundo os relatos, os polacos foram dominados pela polícia alemã que abriu fogo contra eles. Vários polacos foram mortos, mas os números ainda não são conhecidos.»
Às 10 horas da manhã do dia seguinte, num discurso na Kroll Opera (onde o parlamento se reunia desde o incêndio que destruira o Reichstag em 1933), Adolf Hitler referiu os incidentes fronteiriços como um dos motivos que justificavam a acção "defensiva" alemã contra a Polónia:
«Eu não consigo encontrar qualquer vontade por parte do governo polaco para realizar negociações sérias connosco. Estas propostas de mediação falharam porque entretanto veio, em primeiro lugar, como resposta a súbita e geral mobilização polaca, seguida por mais atrocidades polacas. Estas foram novamente repetidas ontem à noite. Recentemente, numa noite, houve cerca de 21 incidentes fronteiriços: na noite passada houve 14, dos quais três foram bastante graves. Resolvi, por isso, falar para a Polónia na mesma linguagem que a Polónia tem vindo a usar contra nós nos meses passados...
Esta noite, pela primeira vez, soldados polacos dispararam no nosso próprio território. Desde 5:45 que estamos respondendo com artilharia... Eu vou continuar esta luta, não importa contra quem, até que a segurança do Reich e seus direitos estejam garantidos.»