Adolf Hitler

1889-1945

// Biografia completa de Adolf Hitler.


// 

Os primeiros anos

O pai de Hitler (cujo nome original, até o ter alterado já no final da vida, era Schicklgruber) era um funcionário menor de alfândega ao serviço da Áustria. Hitler foi o único filho da sua terceira mulher. O pai de Hitler faleceu quando ele tinha 14 anos, não deixando quaisquer recursos que lhe permitissem continuar a estudar. Foi para Viena com a sua mãe, na esperança de poder vir a ser arquitecto, mas vendo-se forçado a trabalhar para ganhar a vida como assistente de pintor e efectuando pequenas vendas. Depois de passar alguns anos em Viena, decidiu instalar-se em Munique (1912). Estes anos de penúria foram fundamentais na formação tanto da sua filosofia de vida quanto da sua personalidade; aliás, foi provavelmente nessa altura que pela primeira vez assimilou as teorias anti-semitas e pan-germânicas típicas dos nacionalistas extremistas da época.


Primeira Grande Guerra

Hitler entrou para um regimento de reserva bávaro no início da Primeira Grande Guerra, servindo nas trincheiras como mensageiro. Atingiu o posto de Gefreiter (aspirante), foi ferido na batalha do Somme (1916) e gaseado em 1918. Convenceu-se de que a Alemanha tinha sido traída pelas influências judaicas e marxistas e regressou da guerra amargurado com a sua derrota. De regresso à Bavária assistiu, e mais tarde ensinou, a cursos destinados a fazer com que os ex-combatentes se mantivessem afastados do bolchevismo; foi nessa altura que cedeu à influência de Gottfried Feder, o pai intelectual do movimento nazi.


Hitler assume a liderança dos nazis

Seguidamente tornou-se o sétimo membro de um insignificante grupo político de Munique, o Partido dos Trabalhadores Alemães, distinguindo-se muito rapidamente graças à sua quase hipnótica oratória popular. Através dos seus amigos, Erich Röhm, um oficial de Munique, e von Epp, manteve-se em constante contacto com o exército alemão, o Reichswehr. Substituiu o fundador e líder do partido Anton Drexler, em 1921. Nessa altura, já o partido se chamava Partido Operário Nacional-Socialista Alemão e adoptara as máximas nacionalistas e anti-marxistas de Hitler. Depois de uma discussão com Röhm sobre o papel das recém-criadas forças SA (Sturmabteilung) (os camisas castanhas), Hitler organizou um destacamento especial formado pelos seus próprios soldados políticos disciplinados em vez dos arruaceiros de rua sempre envolvidos em zaragatas - os camisas castanhas de Röhm. Estas tropas foram estabelecidas formalmente em 1926 com o nome de SS (Schutzstaffel), à semelhança dos fasci di combattimento de Mussolini.

 

Prisão e Mein Kampf

Considerando que a república de Weimar estava à beira do colapso, Hitler desencadeou um golpe em Munique, em Novembro de 1923, em associação com Röhm, o herói de guerra Ludendorff e Goering, numa tentativa de impor Ludendorff como ditador. O golpe falhou e Hitler foi preso e julgado por traição. Foi condenado a cinco anos de prisão e durante o tempo em que esteve preso no forte de Landsberg trabalhou com Rudolf Hess na versão definitiva do livro Mein Kampf.

 

Construindo o partido

Durante o tempo que passou na prisão, o Partido Nazi quase se desintegrou por completo, de modo que assim que foi libertado, em 1924, graças a uma amnistia, dedicou-se de imediato à reconstrução da organização do partido. Apesar de, durante algum tempo, os irmãos Strasser, criadores do Partido Nazi no norte da Alemanha, terem sido mais influentes entre os membros do partido que Hitler, ele foi recuperando gradualmente o tempo perdido e acabou por conseguir afastar totalmente os Strasser. Em 1930 era já o líder incontestado de um partido que contava com um número considerável de membros. Os fundos doados pelos grandes industriais, que viam o nacional-socialismo como a única forma de se salvaguardarem contra o comunismo, eram cada vez mais significativos. O Nacionalismo acabou por suplantar o Socialismo em termos do programa do partido, apesar de determinados chavões revolucionários continuarem a ser utilizados.

Quando a crise económica de 1930 fez a sua aparição, Hitler explorou sabiamente o descontentamento das classes trabalhadoras e dos elementos mais sólidos das classes médias, que viam o seu nível de vida ameaçado pela crise. A sua retórica converteu muitas pessoas e, nas eleições seguintes, em Setembro de 1930, os nazis aumentaram a sua representação no Reichstag, o parlamento alemão, de 12 para 107 representantes. Hitler apresentou-se contra Hindenburg nas eleições presidenciais de 1932 e, embora tenha sido vencido na segunda volta, conseguira granjear 13 milhões de votos e tornara-se uma força política de peso. Perante uma situação política que se deteriorava rapidamente, o chanceler Brüning sentiu-se obrigado a governar por lei e, apesar de ser aparentemente um liberal, o seu regime criou as condições que conduziriam à ditadura. Em Junho de 1932 demitiu-se do cargo de chanceler, tendo-lhe sucedido Papen. Hitler via-se a si próprio como o herdeiro ideal para o cargo de chanceler, mas não tinha contado com a oposição do velho regime de direita, que contava com o apoio dos industriais e dos junkers (proprietários rurais pertencentes à aristocracia). Von Papen dissolveu o Reichstag e convocou novas eleições, mas o Partido Nazi dobrou o seu número de representantes para 230 e Hitler viu-se finalmente na posição de líder do maior partido alemão. Por fim, Hitler e von Papen chegaram a um acordo: Hitler renunciaria à secção socialista do seu programa partidário e von Papen libertaria os subsídios dos industriais directamente para os cofres de Hitler e convenceria Hindenburg a aceitá-lo como chanceler (Janeiro de 1933).

 

O Terceiro Reich

Em 1933, a república de Weimar deu lugar ao Terceiro Reich e, no final do mesmo ano, o sistema de partido único havia-se tornado a forma de governo oficial. Os opositores políticos desapareceram, quer assassinados quer enviados para campos de concentração. Tendo, de um modo geral, eliminado a oposição por toda a Alemanha, Hitler concentrou a sua atenção nos últimos redutos de dissensão dentro do seu próprio partido. Durante a Noite dos Facas Longas, a 30 de Junho de 1934, mais de 100 figuras nazis importantes foram assassinadas, entre os quais Gregor Strasser, Röhm, Kurt von Schleicher e a sua mulher. Todo o poder passava agora pelo executivo nacional-socialista, o que, na prática, significava através do próprio Hitler. Quando em Agosto de 1934 Hindenburg morreu, Hitler foi declarado o seu sucessor, declinando o título de Reichspräsident (Presidente do Reich) a favor dos de Fuhrer (líder) e Kanzler (chanceler).

 

O Holocausto

A partir do momento em que Hitler chegou ao poder, instituiu um reinado de terror contra judeus, homossexuais, ciganos e oponentes políticos. As medidas anti-semitas foram introduzidas aos poucos, começando com os boicotes aos negócios judeus em Abril de 1933 e culminando nos horrores dos campos de extermínio e na Solução Final (1941). A propaganda oficial era dirigida contra os judeus, alimentando os antigos ódios populares, como na noite de terror organizado da Kristallnacht (Noite de cristal) , durante a qual as lojas e propriedades judaicas foram atacadas e destruídas por populares a soldo do governo (9/10 de Novembro de 1938). Os judeus eram cada vez mais marginalizados, graças a uma combinação de propaganda pejorativa e de leis antijudaicas, tal como a que obrigava todos os judeus a usar uma estrela amarela na roupa, o que os tornava alvos visíveis tanto para a repressão oficial quanto para a hostilidade privada. Assim que a Segunda Grande Guerra começou, estas políticas foram transpostas para os países ocupados pela Alemanha e, por volta de 1941, já existia uma rede de campos de extermínio, em particular na Polónia. O Holocausto alcançou o seu ponto mais alto após a conferência de Wannsee, a 20 de Janeiro de 1942, um encontro durante o qual os mais elevados oficiais nazis desenvolveram uma política sistemática de extermínio eficiente. Não existem estatísticas precisas para o número de vítimas dos nazis, mas crê-se que por volta do final da guerra cerca de 6 milhões de judeus e perto de um milhão de pessoas de outros grupos, tais como eslavos e ciganos, designados como Unsermensch (sub-humanos), já tinham perecido.

 

Reconstruindo o poder alemão

Tendo assegurado a sua posição na Alemanha, Hitler deu início à sua longa campanha para restaurar o poder alemão na Europa, recorrendo para tal a um cada vez maior número de graves quebras dos acordos e ignorando abertamente a opinião dos outros países europeus. Iniciou um intenso programa de rearmamento, organizado secretamente, a princípio, e depois de forma cada vez mais flagrante. Por exemplo, a Alemanha não estava autorizada a possuir uma força aérea mas, sob a desculpa de se tratar de uma linha aérea civil, Hermann Goering construiu absolutamente do nada a Luftwaffe, anunciando oficialmente a sua existência em Abril de 1935.

Hitler voltou depois a sua atenção para as cláusulas territoriais dos diversos tratados que a Alemanha se tinha comprometido a respeitar, começando pelo plebiscito da região do Saar, em Janeiro de 1935. O resultado, influenciado em parte pelo terrorismo, foi uma esmagadora maioria a favor do regresso à Alemanha, tendo Hitler usado estes resultados como um incentivo para denunciar as cláusulas militares do tratado de Versalhes (Março de 1935) e para introduzir o serviço militar obrigatório na Alemanha. Um ano mais tarde arriscou o envio das suas tropas até à zona desmilitarizada do Reno, desafiando abertamente o acordo de Locarno de 1925, o qual, segundo ele, havia sido ultrapassado pela aliança franco-soviética. A remilitarização da margem direita do Reno foi seguida por dois anos de activas preparações militares alemãs, combinadas com uma reformulação total da economia, de modo a tornar a Alemanha auto-suficiente.

Quando estalou a guerra civil de Espanha, em Julho de 1936, Hitler aproveitou a oportunidade para testar os seus recém-formados exército e força aérea ao lado das forças de Franco. Outros acontecimentos no estrangeiro durante os anos de 1936-1937, tais como a incapacidade da Sociedade das Nações em verificar a aventura abissínia de Mussolini, aumentaram a tensão na Europa e muito contribuíram para o fortalecimento da posição de Hitler. Mussolini era um aliado natural e os dois países tornaram-se aliados com o Eixo Roma-Berlim de Outubro de 1936.

 

Expansionismo no estrangeiro

A partir do final de 1937, Hitler optou por uma política estrangeira agressivamente expansionista que, durante dois anos, apenas lhe trouxe sucessos espectaculares. Em Março de 1938 anexou a Áustria, manipulando uma súbita crise nas relações austríaco-alemãs, enviando o exército alemão para o outro lado da fronteira e declarando o Anschluss, a incorporação da Áustria no Reich. De seguida começou a implantar a campanha para a libertação dos Sudetas, uma área de etnia alemã dentro da Checoslováquia - tal atitude não passava de um ataque a um estado soberano unido por tratado às potências ocidentais e por laços étnicos à Rússia. Contudo, Hitler compreendia perfeitamente as realidades inerentes à situação política imediata e sabia bem de mais que o ocidente não estava preparado para lutar. O acordo de Munique de Agosto de 1938 entregou-lhe os Sudetas em troca da promessa de que não exigiria mais territórios - a mesma promessa que fizera aquando da anexação da Áustria. Logo de seguida, durante o ano de 1939, apoderou-se dos restantes territórios da Checoslováquia e, ao mesmo tempo, anunciou a anexação de Memel, violando directamente o tratado de Versalhes. Por essa altura, aos olhos do alemão médio, Hitler parecia ser não apenas o conservador da paz mas também um estadista de mão cheia, ultrapassando todos os seus predecessores e alargandoas fronteiras do Reich. Em menos de um ano, acrescentara 10 milhões de alemães ao Terceiro Reich, quebrara o formidável bastião da expansão alemã para sudeste e tornara-se o maior ditador europeu desde a época de Napoleão.

 

O início da guerra

Em Março de 1939, Hitler renunciou ao pacto de não-agressão com a Polónia, de 1934 e exigiu a devolução de Danzig e do corredor polaco. O Reino Unido e a França garantiram a independência polaca e avisaram Hitler de que estavam dispostos a lutar pela Polónia. Hitler ficou algo abalado com este procedimento, em particular quando as duas potências ocidentais entraram em negociações com Moscovo. Contudo, em vez de abandonar os seus desígnios, preferiu esquecer momentaneamente o seu ódio pelo comunismo e propor um pacto de não-agressão à URSS. Estaline concordou e o pacto Molotov-Ribbentrop foi assinado a 23 de Agosto de 1939. Afastado o perigo da interferência soviética, Hitler lançou o seu Blitzkrieg sobre a Polónia a 1 de Setembro de 1939 e, dois dias mais tarde, o Reino Unido e a França declararam guerra.


Blitzkrieg

Depois da invasão da Polónia, a Alemanha avançou rapidamente sobre a Holanda, a Bélgica e a França, tendo lançado, ao mesmo tempo, invasões sobre a Noruega e a Dinamarca. Os espectaculares acontecimentos da Primavera e Verão de 1940 culminaram no armistício com a França, o que apenas confirmou o génio de Hitler aos olhos do alemão médio. Na Primavera de 1941, as forças alemãs invadiram a Jugoslávia e a Grécia, enquanto a força aérea atacava o Reino Unido com os seus bombardeiros e a marinha os barcos que transportavam as provisões.

 

Batalha do Reino Unido e plano Barba Ruiva

Hitler decidiu atingir os britânicos atacando o império a oriente. No entanto, este plano dependia da neutralidade da URSS e, não estando absolutamente certo deste facto, Hitler e os seus conselheiros decidiram fazer coincidir um ataque ao Egipto com a invasão da própria URSS - a operação Barba Ruiva, de Junho de 1941. Esta foi uma decisão fatal que fez entrar em cena um inimigo poderoso e que abriu uma segunda frente, tendo acabado por revelar as fraquezas essenciais subjacentes a toda a Weltpolitik (política) de Hitler. É bem possível que ele tenha tomado esta decisão contra a opinião dos outros líderes nazis e, de um modo geral, contra a opinião do estado-maior alemão. A partir daí esforçou-se por afastar a URSS dos Aliados ocidentais realçando a cruzada antibolchevique da Alemanha.

As campanhas alemãs dos balcãs e do Mediterrâneo foram brilhantes em termos de planeamento e execução, mas a intervenção britânica na Grécia e a resistência britânica em Creta e na Líbia atrasaram o planeamento de Hitler em termos de tempo e, à medida que o Verão de 1941 chegava ao fim, tornava-se óbvio que o optimismo alemão tinha sido excessivo. Os revezes na batalha de Inglaterra (Julho de 1941) constituíram um terrível golpe para o moral alemão e, durante algum tempo, Hitler permaneceu silencioso; no entanto, numa reunião, a 4 de Outubro, anunciou uma operação gigantesca que provocaria a derrota da URSS. Depois do esmagamento do exército alemão mesmo antes de chegar a Moscovo, Hitler despediu o comandante-chefe, Brauchitsch, em Dezembro de 1941, e assumiu pessoalmente o controlo de todas as operações militares. Quando os Estados Unidos entraram na guerra, após o ataque a Pearl Harbor (Dezembro de 1941), quatro quintos do mundo passaram a estar em luta contra a Alemanha.


O declínio 1942-1943

A mensagem do Ano Novo de 1942, de Hitler, assinalou um declínio na grandeza das suas afirmações, apesar de os exércitos alemães continuarem a constituir uma força poderosa. Com efeito, no início de 1942, os exércitos alemães posicionados na USSR chegaram ao Volga, em Estalinegrado, enquanto Rommel ameaçava o Cairo e Alexandria, no norte de África. No entanto, antes do Outono chegar ao fim, Rommel tinha sido derrotado em El Alamein e os soviéticos haviam destroçado o 6º exército de von Paulus frente a Estalinegrado. Hitler começou a falar cada vez menos da vitória alemã e mais da incapacidade dos Aliados em derrotarem a Alemanha e não tardou que surgissem novas crises. Mussolini foi deposto em Julho de 1943 e a Itália capitulou perante os Aliados.

 

1944

Depois de os exércitos alemães terem sido expulsos da USSR e após o Dia D, em Junho de 1944, dia em que ocorreu a chegada das forças aliadas à Normandia, tornou-se óbvio que ao contrário do que Hitler previra os Aliados não seriam empurrados de volta ao mar. A oposição alemã, liderada por generais, industriais, liberais e até elementos de esquerda, tentou um golpe de estado, a conspiração da bomba de Julho. O sinal de partida deveria ser o assassinato de Hitler, mas a bomba que foi colocada no quartel-general por um oficial da sua guarda, de nome von Stauffenberg, não o matou e o golpe falhou. A única coisa em que este golpe foi bem sucedido foi em ter feito com que Hitler embarcasse numa das mais sangrentas purgações de sempre: milhares de homens e mulheres passíveis de liderar um outro golpe foram executados (a maior parte dos quais sem nada ter a ver com a conspiração) para evitar que, no futuro, se envolvessem num outro levantamento. Himmler tomou a seu cargo o comando do exército na Alemanha, de modo a reforçar ainda mais o controlo nazi sobre ele. Contudo, à medida que o ano decorria, os Aliados iam avançando.

 

1945, a derrota

Ao mesmo tempo que os Aliados se lançavam sobre a Alemanha, em Abril de 1945, Hitler casava com a sua amante, Eva Braun, a 29 de Abril de 1945, e no dia seguinte ambos cometiam suicídio, no abrigo anti-aéreo por baixo da chancelaria de Berlim. É tido como certo que os corpos foram de seguida queimados no pátio.