Forca Expedicionária Brasileira

// Informações sobre o Brasil e a sua força militar (FEB) durante a segunda guerra mundial.


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As tropas brasileiras estiveram em Itália onze meses, depois de aí chegarem em Setembro de 1944 e sairem em Agosto de 1945. Foi o único país da América Latina que participou directamente na Segunda Guerra Mundial. A sua participação na guerra começou com a assinatura a 28 de Janeiro de 1942, durante a Terceira Conferência dos Chanceleres Americanos no Rio de Janeiro, de um acordo que colocava fim à sua relação com o Eixo.
 
Com o afundamento de trinca e quatro navios brasileiros perto da costa, a opinião pública começou a pressionar o governo de Getúlio Vargas, presidente do Brasil, culminando na entrada na guerra contra o Eixo. A neutralidade por parte do Brasil até aí mantida não estava a ser bem vista pelos Aliados, que viam em Vargas um possível ditador nas Américas, uma vez que este demonstrava grande simpatia pelo fascismo italiano. Assim, não tendo outra saída, no dia 22 de Agosto de 1942 o governo foi levado a reconhecer a existência do estado de beligerância entre o Brasil e as potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
Cabia agora saber qual seria a resposta do governo às agressões do Eixo. O primeiro passo foi fornecer bases militares aos americanos para que das costas brasileiras pudessem partir depois de reabastecidos aviões rumo a África e à Europa, o chamado trampolim do Atlântico. Caberia ainda aos brasileiros patrulhar os mares e os ares do Atlântico. Mas mesmo assim, o povo queria mais. Queria que o governo respondesse à altura aos ataques que em poucos dias mataram mais de uma centena de civis que estavam nos navios mercantes afundados pelo Eixo.
 
Foi então que em 1943 o Brasil decidiu criar a FEB (Força Expedicionária Brasileira). Porém existiu grande dificuldade para encontrar soldados que se encaixassem no perfil do combatente americano e inglês.
A última grande guerra em que o Brasil tinha participado foi contra o Paraguai em 1865, não possuindo à primeira vista comandantes experientes em grandes conflitos. Durante a década de 40, o seu armamento era ainda em boa parte do período da Primeira Guerra Mundial, tratando-se de uma mistura entre armamento alemão e inglês.
A táctica militar ensinada no exército ainda era a francesa que fora utilizada na guerra de 1914. Os soldados estavam espalhados por todo o território, e a sua condição física também não era muito boa. Muitos dos soldados não possuíam instrução escolar pois vinham do campo onde a educação básica era privilégio de pouquíssimas pessoas. Para completar o quadro desastroso, dentro do exército do país ainda havia uma divisão entre oficiais que apoiavam os alemães e oficiais que apoiavam os Aliados.
 
Politicamente falando, existia no país um movimento chamado Integralismo que era um grupo de apoio disfarçado ao nazismo e que tinha muita força principalmente no Sul do Brasil, onde existiam colónias de alemães e italianos.
Para acabar com esta influência, o governo proibiu as pessoas de falarem alemão em público e convocou todos os alemães a comparecerem às delegacias para prestarem depoimento. Isto tudo com o principal objectivo de evitar a espionagem.
 
A imprensa nacional dizia que era mais fácil uma cobra fumar, do que o Brasil ir para a guerra. Enganaram-se plenamente. Mesmo com tantos problemas, o Brasil conseguiu mobilizar mais de 25 mil soldados, divididos em três quartéis e, ainda que a grande velocidade, começou a treiná-los para a saída para o teatro de operações. Por exemplo, enquanto que um soldado americano treinava em média durante 9 meses antes de embarcar para o combate, um soldado o brasileiro treinava somente 3 meses.
 
Assim, a Agosto de 1943 começaram secretamente a ser traçadas as normas para a organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB), destinada a cooperar com os exércitos Aliados. No dia 9 de Agosto de 1943, o General Mascarenhas de Moraes, comandante da 2ª Região Militar (São Paulo), foi convidado pelo ministro da guerra, Eurico Gaspar Dutra, a assumir o comando de uma das Divisões de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira.
Em seguida, o ministro partiu para os Estados Unidos carregando uma carta de Vargas ao presidente Franklin Roosevelt, em que Getúlio manifestava o desejo do Brasil em participar activamente nas batalhas. A divisão de Mascarenhas de Moraes seria a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), devendo a sua designação ser feita oportunamente. Pela Portaria Ministerial 4.744, publicada em boletim reservado de 13 de Agosto de 1943, foi estruturada a FEB, constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por órgãos não-divisionários. A 23 de Novembro de 1943 é finalmente criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), com três Divisões de Infantaria e elementos orgânicos do Corpo de Exército, inclusive Aviação e Órgãos de Comando e de Serviços.
Uma divisão (1° Regimento Sampaio) iria ficar no Rio de Janeiro, então capital da República, outra (6° Regimento de Caçapava) em Caçapava, no interior do Estado de São Paulo, distante da capital paulista aproximadamente 5 horas e o outro regimento (11° Regimento de Infantaria) iria ficar no Estado de Minas Gerais, na cidade de São João Del Rey.
 
Em Outubro de 1943 já se tinha dado início à organização da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), sob a orientação do General Mascarenhas de Moraes, para esse fim designado a 7 de Outubro de 1943. Essa grande unidade expedicionária e respectivos elementos seguiriam os padrões vigentes no Exército dos Estados Unidos e já consagrados pela experiência da guerra em pleno desenvolvimento.
A tropa orgânica da Divisão de Infantaria Expedicionária (DIE), tipo americano, compreendia: 
3 Regimentos de Infantaria:
1º Regimento de Infantaria, o Sampaio, do Rio de Janeiro;
6º Regimento de Infantaria, de Caçapava;
11º Regimento de Infantaria, de São João del Rey.
3 Grupos de Artilharia 105mm;
1 Grupo de Artilharia 155mm;
1 Batalhão de Engenharia (9º Batalhão de Engenharia, de Aquidauana - Mato Grosso);
1 Esquadrão de Reconhecimento;
1 Batalhão de Saúde (organizado em Valença);
1 Companhia de QG;
1 Companhia de Intendência;
1 Companhia de Transmissões;
1 Companhia de Manutenção;
1 Pelotão de Polícia;
1 Banda de Música;
1 Destacamento de Saúde;
1 Pelotão de Sepultamento.
 
Em resumo, a FEB teve um Comando, uma divisão de Infantaria, um Depósito de Pessoal e pequenas organizações com Serviço de Justiça e Serviço de Saúde ao qual estiveram integrados cerca de 100 médicos e 111 enfermeiros. Na organização da 1ª DIE foram aproveitadas, em grande parte, unidades já existentes, algumas transformadas e outras criadas.
 
Os oficiais tiveram que se adaptar às mudanças. Chefes brasileiros como os generais Euclydes Zenóbio da Costa, Oswaldo Cordeiros de Farias e Falconiere da Cunha, foram mandados para os EUA para aprenderem as novas tácticas de guerra. 
Durante o estágio, o General Mascarenhas de Moraes, no dia de 6 de Dezembro de 1943, acompanhado de diversos oficiais, entre os quais um Grupo de Observadores, partiu para o Norte de África e Itália. Neste último, visitou demoradamente as frentes de combate e esteve em contacto com os mais notáveis chefes militares Aliados desse Teatro de Operações. No final de 1943, foi decidido que o destino do corpo expedicionário brasileiro seria o teatro de operações do Mediterrâneo.
As forças brasileiras seriam integradas no 5º Exército norte-americano, comandado pelo General Mark Clark, e incluída nos quadros do 4º Corpo de Exército, comandado pelo General Willis Crittenberger. Este Corpo do Exército americano, além da divisão brasileira, compunha-se de uma divisão blindada (americana), uma divisão sul-africana e outra inglesa, e ainda da 10ª Divisão de Montanha (americana), que lutou ao lado dos brasileiros em Fevereiro de 1945, aquando da tomada de Monte Castello.
 
O 5º Exército norte-americano fazia parte do 10º Grupo de Exércitos Aliados. Junto com o 5º Exército norte-americano combatia no Teatro do Mediterrâneo o famoso 8º Exército Inglês comandado pelo Marechal Montgomery, que combatera contra com os Afrikas Korps de Rommel em África e alcançara bons resultados, que também já tinham surgido na Sicília.
O Comandante Supremo do Teatro de Operações no Mediterrâneo era o Marechal Sir Alexander, do Exército inglês. Numa constelação de brilhantes generais como esta, deveria ser encaixada a FEB.
 
O maior objectivo dos Aliados em Itália naquele momento era manter o exército alemão sob pressão, de modo a não permitir que seus comandantes deslocassem tropas para França, onde se preparava a ofensiva final das forças aliadas no ocidente.
 
Somente a 28 de Dezembro de 1943 é que foi publicada a designação do General Mascarenhas de Moraes para comandar a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), em confirmação da escolha feita pessoalmente pelo Chefe do Governo, no mês de Agosto.
 
Os homens foram aquartelados e começaram a treinar todo o tempo que podiam, sendo as visitas dos oficiais constantes.
A 1ª DIE foi organizada com base numa Divisão de Infantaria do Exército dos EUA, ou seja, com 14.254 homens (734 oficiais e 13.520 pracinhas, designação carinhosa dos brasileiros combatentes pelo povo e que perdura até hoje) e equipada com 66 obuses (54 de 105mm e 12 de 155mm), 144 morteiros (90 de 60mm e 54 de 80mm), 500 metralhadoras (87 sub-metralhadoras 4.5, 175 .30 e 237 .50), 11.741 fuzis (5.231 carabinas e 6.510 fuzis todos .30), 1.156 pistolas calibre 45, 2.287 armas anticarro (13 canhões de 37mm e 57 de 57mm, além de 585 lança-rojões 2.36 e 1.632 lança-granadas), 72 detectores de minas anticarro e máscaras contra gases para todo o efectivo. Possuía 1.410 viaturas motorizadas, das quais 13 carros blindados M8 e 5 M3 de meia-lagarta. Isso permitia à 1ª DIE transportar de uma só vez um terço de seu efectivo, o que ocorreu na perseguição no rio Panaro. Os 47 botes de assalto e passadeiras permitiam à divisão realizar pequenas transposições de cursos de água. Os seus 736 telefones, 42 telégrafos, 592 estações de rádio e 10 aviões Piper Cub de ligação, proporcionavam-lhe ampla capacidade de observação e ligação.
Com esta organização, a 1ª DIE tinha a possibilidade de atacar numa frente de até 6km e defender uma frente de 5 a 10km, depois de adaptação em montanha que ocorreria na região dos Apeninos, em Itália. O treino da 1ª DIE iniciou-se no Brasil com apoio de 115 regulamentos americanos traduzidos e coordenados pelo Estado-Maior da FEB, que funcionou na Casa de Deodoro e que prestou grande ajuda à mobilização complexa da FEB sob a chefia do General Anor Teixeira dos Santos. Concorreram para esse treino vários oficiais com treino no Exército dos EUA.
 
 
Entrando de vez na Guerra
 
Os primeiros a embarcar foram os homens do 6° Regimento de Infantaria, que era composto por homens vindos de estados com tradição militar do Brasil, como Mato Grosso e, que mais tarde se dividiria em Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, territórios que na época da guerra contra o Paraguai haviam sido palco de sangrentas batalhas entre os dois países por fazerem fronteira com o mesmo. Também havia homens de São Paulo e de outros estados da Região Centro Oeste, Sul e Norte do Brasil.
 
A 2 de Julho de 1944 as forças brasileiras partiram para o teatro de guerra, tendo aí chegado no dia 16 do mesmo mês, a bordo Navio General Mann.
Os homens que desembarcaram em Itália não sabiam ao certo o seu destino e pensavam que seriam mandados para a África, mas o seu destino foi mesmo a Velha Bota.
 
Os três primeiros regimentos já citados constituíam a 1ª Divisão Infantaria Expedicionária (DIE) e os dois últimos formavam o Depósito de Pessoal, para substituir as possíveis baixas. Os cinco Escalões de Embarque deslocaram-se para Itália nas seguintes condições:
 
1º Escalão de embarque: a 2 de Julho de 1944, pelo General Mann, sob o comando do General Zenóbio da Costa, tendo chegado a Nápoles em 16 de Julho. Acompanhou este Escalão o General Mascarenhas de Moraes.
Composição: Escalão Avançado do Quartel-General da 1ª DIE; Estado-Maior da ID da 1ª DIE; o 6º RI; a 4ª Cia. e 1º Pel. de Mrt. do 11º RI; o II/1º ROAuR; 1ª Cia. do 9º BE; 1/3 das Sec. Supr. e de Man. do 9º BE; 1º Pel. do Esquadrão de Reconhecimento; a Sec. Explr. e elementos da Sec. Cmdo. da 1ª Cia. de Transmissões; a 1ª Cia. de Evacuação, o Pel. Tratamento e elementos da Sec. Cmdo., todos do 1º Batalhão de Saúde; a Cia. de Manutenção; o Pelotão de Polícia Militar; um pelotão de viaturas, uma Sec. do Pel. de Serv. e elementos da Séc. de Cmdo. da 1ª Cia. de Intendência; e elementos da FEB anexos à 1ª DIE; o Correio Regulador, o Depósito de Intendência, a Pagadoria Fixa, correspondentes de guerra, elementos do Hospital Primário, Serviço de Justiça e Banco do Brasil.
Efectivo: 5.075 homens, inclusive 304 oficiais.
 
2º Escalão de Embarque: A 22 de Setembro de 1944, pelo General Meigs, sob o comando do General Oswaldo Cordeiro de Farias, chegando a Nápoles a 6 de Outubro.
Composição: AD/1ª DIE (Estado-Maior e Bia. de Comando); o 1º RI; I/2º ROAuR; 9º BE (elementos do Dest. Cmdo., Cia. de Serviço e 2ª Cia.); grosso do I° Esquadrão de Reconhecimento; 1ª Cia de Transmissões (Sec. Extra., uma Sec. Explr. e Sec. Constr.); 1º Batalhão de Saúde (elementos do Dest. Cmdo., 1ª Cia. de Evacuação e elementos da Cia. de Tratamento); elementos da Cia. de Intendência; elementos de Depósito de Intendência; elementos dos Serviços Postal e Justiça; Cia. do Quartel-General da 1ª DIE; grosso do QG da 1ª DIE; 2º Grupo Suplementar Brasileiro em Hospitais americanos; 3º Grupo Suplementar Brasileiro em Hospitais Americanos; correspondentes de guerra e elementos do Banco do Brasil.
Efectivo: 5.075 homens, inclusive 368 oficiais.
 
3º Escalão de Embarque: A 22 de Setembro de 1944, pelo General Meigs, sob o comando do General Olimpio Falconiere da Cunha, chegando a Nápoles a 6 de Outubro.
Composição: 11 RI.; I/1º ROAuR; I/1º RAPC; 9º BE (Comando e Cia. de Serviço, Dest. Saúde e 3ª Cia.); Esq. de Ligação e Observação; 1º Batalhão de Saúde (Dest. Cmdo., Pel. de Tratamento e 3ª Cia. Evac.); elementos da 1ª Cia. de Intendência; QG da 1ª DIE e Cia. do QG; Depósito de Intendência; Banda de Música; 1º Grupo Suplementar Brasileiro em Hospitais Americanos; e Pelotão de Sepultamento.
Efetivo: 5.239 homens, inclusive 318 oficiais. Os efectivos transportados nos 2º e 3º Escalões de Embarque montaram a 10.375 homens.
 
4º Escalão de Embarque: A 23 de Novembro de 1944, pelo General Meigs, sob o comando do coronel Mário Travassos, chegando a Nápoles a 7 de Dezembro. Conduziu o 1º Escalão do Depósito de Pessoal da FEB; Efectivo: - 4.691 homens, inclusive 285 oficiais.
 
5º Escalão de Embarque: A 8 de Fevereiro de 1945, pelo General Meigs, sob o comando do Tenente-Coronel Ibá Jobim Meireles, tendo chegado a Nápoles a 22 do mesmo mês. Conduziu o 2º Escalão do Depósito de Pessoal da FEB.
Efectivo: 5.082 homens, inclusive 247 oficiais.
 
Com excepção de 111 militares, entre os quais 67 enfermeiras, que viajaram por via aérea (Rio-Natal-Dakar-Nápoles) todos os soldados foram para Itália via Oceano.
Quando chegaram a Itália, os brasileiros tiveram que ser reequipados, pois o fardamento que o governo ofereceu era de péssima qualidade e parecido com o uniforme alemão. Conta a lenda que quando os homens chegaram foram vaiados pelos napolitanos, que atiraram até pedras e cuspiram nos homens, pensando que se tratassem de prisioneiros alemães, mesmo tendo em suas fileiras negros e mestiços. O mal entendido só foi desfeito quando a bandeira foi levada à frente e a banda começou a tocar o hino nacional.
 
No dia 26 de Julho de 1944, foi autorizada a deslocação do 1º Escalão de Embarque para a região de Tarquinia. Na noite de 5 de Agosto de 1944 o 1º Escalão de Embarque já se encontrava concentrado em Tarquinia, onde, passada uma quinzena, recebeu armamento e equipamento de toda a natureza. Nesse mesmo dia, ficaram subordinados ao V Exército Americano.
De 18 a 20 de Agosto o 1º Escalão de Embarque deslocou-se de Tarquinia para Vada, que distava 25 quilómetros da frente de batalha do Arno. Aí instalados, tinham como camuflagem um imenso parreiral. O período de instrução final foi de três semanas.
 
1° Escalão foi então mandado para o vale do Serchio, enquanto os recém-chegados do Brasil 2º e 3º Escalões de Embarque, avaliado em 10 mil homens, alcançava a Área de Treino situada na Quinta Real de San Rossore. Os 2º e 3º Escalões de Embarque levaram trinta e cinco dias para receber todo o suprimento bélico e os trabalhos de distribuição aos Órgãos de Serviço brasileiros, que só foram dados por concluídos no dia 22 de Novembro de 1944. 
Os 4º e 5º Escalões de Embarque, que constituíam o Depósito de Pessoal da FEB, partiram do Brasil praticamente sem instrução, chegando a Itália respectivamente a 7 de Dezembro de 1944 e a 22 de Fevereiro de 1945, um dia depois da vitória de Monte Castello.
O quartel-general avançado foi instalado em Porretta Terme.
 
Para testar os recém-chegados, os brasileiros que ainda não tinham passado pelo "baptismo de fogo", foram mandados para uma área que se situava entre a planície que borda o litoral do mar Tirreno e o pitoresco vale do Serchio, local considerado calmo.
Na noite de 15 de Setembro de 1944 as tropas brasileiras substituíram as tropas americanas disposta numa grande frente, à esquerda da 1ª Divisão Blindada.
A 18 de Setembro os brasileiros apoderam-se de Camaiore e, com as acções do dia 19 de Setembro, conseguem cerrar sobre os postos avançados da famosa Linha Gótica. Até chegar ao Monte Prano no dia 26 de Setembro, as tropas brasileiras passaram dias difíceis. São inúmeras as vilas e cidades que a FEB libertou, entre elas podem-se citar: Lucca, Borgo a Mozzano, Bagni de Lucca, Fornaci, Gallicano, Castelnuovo di Garfagnana. 
 
Prosseguindo o seu movimento para o Norte, ao longo do já referido vale, o Destacamento FEB ocupou a 6 de Outubro as localidades de Fornaci e Coreglia Antelminelli. No dia 11 de Outubro os brasileiros ocuparam Barga e, mais a pelo Sul, a vila de Gallicano. Na manhã de 30 de Outubro, apesar da lama e da chuva, que já anunciavam o Inverno, a FEB, num primeiro tempo de operação, atingiu a linha, de onde se deveria lançar sobre Castelnuovo, ponto ideal para tentar libertar a rota 64 que dava acesso à Bolonha, de onde poderiam ser mandados suprimentos para os exércitos do Sul da França, e para o deslocamento rumo à Áustria e consequentemente à Berlim.
Os alemães contra-atacaram e por diversas vezes Castelnuovo trocou de posse. Na avaliação dos comandantes até o mês de Setembro, a FEB fez de 16 de Setembro a 31 de Outubro, 40 quilómetros de avanço, capturou 208 prisioneiros, algumas cidades e uma fábrica de acessórios para aviões, sofrendo 290 baixas entre mortos, feridos, acidentados e extraviados.
Encerrou-se com tais resultados a acção do General Zenóbio da Costa como comandante do Destacamento FEB, uma vez que a chegada da maioria da 1ª DIE estava a exigir a sua presença na preparação de dois Regimentos de Infantaria (1º e 11º RI, que chegaram no segundo e terceiro escalões respectivamente).
 
 
Novembro chegou, e também o Inverno
 
Animado com o progresso do Brasil, os americanos decidem passar o controle das tropas na sua totalidade para o comando brasileiro, e foi assim que o General Mascarenhas de Moraes, assumiu às zero horas do dia 1º de Novembro de 1944, com a chegada das demais Unidades da Divisão, o controle da totalidade dos seus meios, inclusive das operações que se processavam no vale do Serchio. Entre 3 e 7 de Novembro de 1944, a FEB mudaria de frente de combate e deveria seguir para o vale do Reno. Alguns generais americanos não concordavam com isso, dizendo que os brasileiros ainda eram muito imaturos para tais acções. Mesmo assim, lá se foram os brasileiros. A defensiva no vale do Reno, como foi chamado este período, caracterizou-se por quatro ataques mal sucedidos contra Monte Castello, que formava um ponto crucial para a conquista da tão desejada estrada para Bolonha.
 
Os primeiro e segundo ataques foram realizados, respectivamente, a 24 e 25 de Novembro pelas tropas americanas, comandadas pelo general americano e reforçada por um Batalhão e outros elementos da Divisão Brasileira, tendo falhado devido à descoordenação que existiu. Os terceiro e o quarto ataques foram realizados pelas tropas brasileiras, nos dias 29 de Novembro e 12 de Dezembro, respectivamente, tendo ocorrido com os mais dolorosos insucessos, pelas baixas sofridas e pelo abalo moral produzido nos combatentes estreantes e sem noção do que encontrariam pela frente.
O insucesso das operações foi resultado da inexperiência de alguns soldados que se estrearam na linha da frente e da falta de comunicação dos dois comandos que não sincronizaram os ataques.
Viu-se logo que para tomar o Monte, era preciso cercá-lo através de outros montes vizinhos no conjunto Belvedere-Gorgolesco-Castello-Torraccia, empregando um mínimo de duas Divisões bem apoiadas em artilharia e aviação.
 
Mas o general Inverno chegou, e com ele as dificuldades para os brasileiros, que acostumados ao clima tropical enfrentaram um frio de até -18°C.
Mas o pracinha era criativo e descobriu como proteger-se do frio. Por exemplo, para evitar o pé de trincheira, que era o congelamento dos pés, o pracinha descobriu que colocando duas meias e forrando as galochas para a neve com feno e papel, poderia impermeabilizar os pés. Resultado: todos os outros países copiaram a ideia.
Os meses de Dezembro e Janeiro passaram-se com um imenso frio, e o terreno de combate ficou caracterizado de terra de ninguém devido ao facto dessa área onde ocorriam os constantes embates entre patrulhas de alemães e brasileiros não fazia parte nem da área aliada nem da área alemã.
 
Outro facto que chamava a atenção no exército do Brasil, era o de que ao contrário dos outros exércitos, não havia separação por raça, cor de pele, e/ou religião. Todos lutavam juntos, como um só país. Os americanos que tinham divisões especiais para negros por exemplo (92º RI), estranhavam que no Brasil lutassem juntos brasileiros, negros, descendentes de europeus, árabes, indígenas, e todas as raças que compunham a riqueza étnica do país, afirmando que a mistura tirava a combatividade do exército.
Foi com esta diversidade que na manhã de 16 de Fevereiro de 1945 se realizou uma conferência de altos chefes militares no QG do IV Corpo, em Lucca. Entre os generais Crittenberger, Mascarenhas de Moraes, George Hays e William Crane, respectivamente comandantes do IV Corpo de Exército, 1ª DIE, 10ª Divisão de Montanha e Artilharia do IV Corpo, assistidos por vários oficiais de menor patente, ficou decidido que o Brasil atacaria de novo Monte Castello, sendo que desta vez as acções não poderiam falhar visto tratar-se de uma questão de honra.
 
A acção começou ao amanhecer do dia 20, com a conquista pela 10ª Divisão de Montanha do Monte Belvedere e Gorgolesco. Às dezassete horas do dia 20 de Fevereiro, foi conquistada Mazzancana, já bombardeada pelos aviões da Força Aérea Brasileira e no dia 21 pela manhã, após um feroz combate que começou às 6h, e terminou às 17h20, a Divisão Brasileira fez cair Monte Castello.
A acção principal do ataque foi executada pelo Regimento Sampaio, coberto, no seu flanco direito, por um batalhão do 11º RI e no seu flanco esquerdo, ligado à 10ª Divisão de Montanha que atacava Monte Della Torraccia. 
Mas as coisas não melhoraram depois disso, pois nos dias 23 e 24 de Fevereiro outros montes como La Serra também ofereceram forte resistência, mas também caíram e até o dia 4 de Março, foi realizada a limpeza do vale do Marano.
 
O ataque a Castelnuovo, que desde Outubro vinha trocando de posse foi realizado a 5 de Março de 1945, tendo ficado definitivamente nas mãos dos brasileiros.
Outras missões ainda deveriam ser realizadas, e à Divisão Brasileira coube o encargo de:
1) conquistar Montese e explorar o êxito até o corte do rio Panaro;
2) substituir continuamente o flanco ocidental (esquerdo) da 10ª Divisão de Montanha;
3) progredir na direcção de Zocca-Vignola.
E assim foi. No dia 14, as acções culminaram na queda de Montese. Por volta das 15 horas o 11º RI de São João Del Rey conseguiu penetrar na vila de Montese, desorganizando e envolvendo as resistências. Os blindados americanos, seguidos pela infantaria brasileira, atingiram, pouco antes das 18 horas, a encosta meridional de Montebuffone, a norte de Montese. Ainda restava a conquista das alturas de cota 927 e Montelo, para cobrir o avanço da 10ª Divisão de Montanha, contra as vistas e os fogos inimigos. Os brasileiros progrediram até à 788. Ao entardecer do dia 15, a Divisão Brasileira recebeu a missão de manter suas actuais posições e prolongar a sua frente para leste. A posição caiu no dia 19.
Agora era preciso completar o segundo objectivo que era o de ir rumo a  Zocca- Monte Orsello - Viggnola, fazendo a limpeza da margem oriental do Panaro e guardando o flanco esquerdo do V Exército. 
 
No dia 22 a tarefa já estava cumprida, e os alemães espalharam-se pelo vale do Pó, já buscando voltar para as suas fronteiras e apoiar os exércitos alemães que defendiam a Alemanha.
Os comandantes decidem perseguir o inimigo e cortar o seu avanço. A Cavalaria fornece o transporte para as tropas e a 26 de Abril, decidiu encetar a perseguição entre os cortes do Enza e Taro. Na tarde de 26 de Abril choca-se o Esquadrão de Reconhecimento, em Collecchio, com forças inimigas, cujo valor era superior às suas possibilidades, e, ao anoitecer, um batalhão do 11º RI, em colaboração com o Esquadrão e uma companhia do 6º RI, toma contacto com as tropas alemãs, que se defendem tenazmente. Pela madrugada de 27, aumenta a luta e que se prolonga por algumas horas.
Era a 148ª Divisão de Infantaria Alemã, formada por mais de 14 mil homens, que de súbito se vêem cercados, sem opção. Era lutar ou morrer, ou se render e poupar vidas. Eles vinham do sector costeiro de La Spezia e em rota batida para o Norte do rio Pó. Os alemães ainda resistem até 28 de Abril. Emissários tratam de pedir o fim das hostilidades. Um padre trata de ser o mediador do acordo. Horas depois, na madrugada de 29 de Abril, tinha começo o espectacular episódio da rendição incondicional da 148ª DI Alemã e dos remanescentes da 90ª Divisão Blindada e Divisão Bersaglieri Itália.
 
De uma vez só, caíram perante os brasileiros, 14.779 prisioneiros, entre os quais figuravam dois generais e mais de oitocentos oficiais. Apreenderam também cerca de oitenta canhões, um milhar de viaturas automóveis, duas centenas de veículos de tracção animal, quatro mil cavalos, grande quantidade de armas automáticas, fuzis e outros equipamentos vitais. As baixas do lado brasileiro foram de 5 mortos e 50 feridos.
Na noite de 28 de Abril, enquanto se travava o combate de Fornovo, elementos avançados da Divisão Brasileira ocupavam a planície que envolve a cidade de Placência e, no dia seguinte, transpunham o Pó para estabelecer uma ponte no Norte desse rio. A 2 de Maio, um batalhão do 11º RI, reforçado por outros elementos, ocupou a importante cidade de Turim.
Nesse mesmo dia o Esquadrão de Reconhecimento, reforçado por forte patrulha do I/11º RI, alcançou a localidade de Susa, 32 quilómetros da fronteira italo-francesa, fazendo ligação com a 27ª Divisão do Exército Francês. Nesses dezanove dias de ofensiva, foram feitos mais de dezanove mil prisioneiros.
Era o fim do domínio alemão na Itália. Vendo isso, no dia 3 de Maio começa a ocupação brasileira na Itália, que duraria até o 28 de Agosto.
 
Retornaram para o Brasil o Escalão nº 1, que chegou ao Rio de Janeiro a 18 de Julho de 1945 e o de nº 5, último Escalão, chegou ao mesmo destino a 3 de Outubro do referido ano.
O governo Vargas por medo, ou receio de que os homens que haviam lutado pela FEB em busca da liberdade do povo italiano, quisessem também lutar contra o seu governo ditatorial, pelo aviso 217-185 de 6 de Julho de 1945 estabeleceu que à medida que fossem chegando ao Rio de Janeiro os diversos Escalões, de regresso de Itália, fossem sendo extintas tais unidades.
A FEB deixou no pequeno e florido cemitério brasileiro da cidade de Pistóia, perto de Florença, 454 mortos. Cerca de 23 soldados foram considerados como extraviados (dos quais 10 enterrados como desconhecidos). Os mortos da FEB foram trazidos em 1960 de volta para o Brasil e descansam em um cemitério carioca.
Desde o dia 16 de Setembro de 1944, a FEB percorreu, conquistando ao inimigo, às vezes palmo a palmo, cerca de 400 quilómetros, de Lucca a Alessandria, pelos vales dos rios Sercchio, Reno e Panaro e pela planície do Pó; libertou quase meia centena de vilas e cidades; sofreu mais de 2.000 baixas, entre mortos, feridos e desaparecidos; fez o considerável número de 20.583 prisioneiros, inclusive dois generais - o general Otto Fretter Pico, comandante da 148a DI alemã, e o General Mario Carloni, comandante do que restava da desbaratada Divisão de Bersaglieri Itália. Ao total foram 2 Generais, 892 Oficiais e 19.689 Praças. A FEB ainda capturou: 80 Canhões, 5.000 Viaturas e 4.000 Cavalos.
Da conquista de Camaiore, na frente do rio Serchio, à rendição da 148a DI alemã, em Collechio-Fornovo, a 1a DIE não deixou de cumprir uma só das missões que lhe foram atribuídas pelo General Willys Dale Crittenberg, comandante do 4o Corpo de Exército, ao qual a tropa brasileira estava incorporada. 
 
 
Vitórias da FEB
Mazzarozza 18.08.1944
Camaiore 18.09.1944
Monte Prano 26.09.1944
Fornacci 06.10.1944
Galicano 07.10.1944
Barga 11.10.1944
San Quirino 30.10.1944
Monte Cavalloro 16.11.1944
Monte Castello 21.02.1945
S. Maria Villiana 04.03.1945
Castelnuovo 05.03.1945
Montese 14.04.1945
Paravento 15.04.1945
Monte Maiolo 19.04.1945
Riverla 20.04.1945
Zocca 21.04.1945
Formigine 23.04.1945
Collecchio 27.04.1945
Castelvetro 28.04.1945
Fornovo 28.04.1945
 
Divisões inimigas que combateram a FEB
ALEMÃS
42ª Divisão Jaeger (ligeira) 
232ª Divisão de Infantaria 
94ª Divisão de Infantaria 
114ª Divisão Jaeger (ligeira) 
29ª Divisão Panzer Granadier
334ª Divisão de Infantaria 
90ª Divisão Panzer Granadier 
305ª Divisão de Infantaria 
148ª Divisão de Infantaria Corpo de Pára-quedistas Blindado Herman Goering
 
ITALIANAS
Divisão Itália
Divisão Monte Rosa
Divisão San Marco
 
Armamentos, Veículos e Equipamentos
A capacidade de fogo da Primeira Divisão Expedicionária da FEB consistia em:
16.245 armas individuais; 
505 metralhadoras; 
144 morteiros; 
66 obuses; 
2.287 armas anti-tanque; 
237 metralhadoras; 
736 aparelhos telefónicos; 
42 aparelhos telegráficos que asseguravam as transmissões; 
10 aviões de observação e ligação, Piper Cub, dos Grupos de Artilharia. 
 
Hoje os veteranos da FEB que serviram como soldados ganham pensões que variam de R$1500 (aproximadamente €400), até R$ 3.000 (€900). Os oficiais ganham mais.
Getúlio Vargas, caiu algum tempo depois por conta própria, sem intervenção alguma da extinta FEB, salvo generais e oficiais que engajados no exército do Brasil ajudaram a implantar a ditadura militar no país, que começou em 1964 e terminou em 1985, causando a perda da democracia no país e retardando o crescimento da nação, endividando o estado e aumentando a corrupção que ficou como herança até hoje.
 
Fontes:
http://www.grandesguerras.com.br/artigos/text01.php?art_id=170
http://www.tropasdeelite.cjb.net/
Simões, Raul Matos A. - A presença do Brasil na II guerra mundial: uma antologia/ Biblioteca do Exército/ Rio de Janeiro
Waack, William / As duas faces da glória: a FEB vista pelos seus aliados e inimigos/ Editora: Nova Fronteira
Lima Júnior, Raul da Cruz/ Quebra-canela: a engenharia brasileira na campanha da Itália/ Editora: Biblioteca do Exército